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A Crise Política no Brasil pelo olhar estrangeiro

Principais jornais do mundo tentam explicar as reviravoltas da política brasileira e retratar os interesses em jogo

Por: Cadu Caldas
21/03/2016 - 22h44min | Atualizada em 22/03/2016 - 00h16min

Foi com espanto que os principais jornais do mundo viram os desdobramentos da crise política brasileira na última semana. "Não fosse Síria, migração, referendo da Grã-Bretanha e Donald Trump, o Brasil dominaria as manchetes globais", resumiu o jornal britânico Financial Times. As publicações retrataram o convite feito pela presidente Dilma Rousseff para que o ex-presidente Lula assumisse a Casa Civil e a divulgação de conversas telefônicas de integrantes do governo.

As publicações mostram a relação conflituosa de Dilma com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e com seu vice, Michel Temer. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) é citado entre os alvos do escândalo, e o juiz Sergio Moro é apresentado como "idealista" e "herói das manifestações", mas tem sua isenção questionada por ter quebrado o sigilo das escutas do ex-presidente.


The Guardian

O jornal britânico afirma que Dilma deveria convocar eleições ou renunciar para evitar aprofundamento da crise. Para a publicação, "esses protestos, se não controlados, podem resultar em violência generalizada com risco de intervenção militar". O jornal ressalta tentativa de acelerar o impeachment no Congresso, instituição apresentada como "sem ideologia", na qual parlamentares "mudam de lado conforme a necessidade." Na visão do jornal, os protestos contra o governo continuam a ser dominados por brancos da classe média alta do Brasil.


Financial Times

O diário britânico chama a situa­ção do Brasil de "tragédia potencialmente perigosa" e alerta que a polarização política pode minar ainda mais a história de sucesso de anos atrás. O jornal ressalta que o discurso do governo e da oposição disfarça interesses escusos e que o zika vírus, transmitido por um mosquito, adicionou um toque bíblico a esta "confusão demoníaca". Para o FT, o principal desafio para Dilma e Lula é o Judiciário, que é elogiado por ter apresentado maior disposição em investigar políticos corruptos e seus parceiros de negócios.


Diário de Notícias

A mais tradicional publicação portuguesa destaca que o sistema político brasileiro, com 30 partidos e 26 Estados, torna o país ingovernável e que isso é o ponto de partida para a corrupção na esfera pública. "Tudo no país conspira para a ingovernabilidade", diz uma das reportagens. Mensalão e Lava-Jato, na opinião do jornal, são escândalos semelhantes, já que ambos serviram para aumentar a base de apoio do governo no Congresso. O diário destaca ainda o rápido crescimento do percentual da população que apoia o impeachment da presidente.


The Washington Post

O diário norte-americano dá destaque ao impasse entre Judiciário e Executivo e afirma que o escândalo ameaça engolir Lula e Dilma, "dois dos líderes mais poderosos do Brasil." A publicação afirma que a tentativa de nomear Lula como ministro é mais uma reviravolta dramática da Lava-Jato e ressalta que, entre os citados nas delações premiadas, também está o líder da oposição, Aécio Neves. A publicação aponta que o juiz Sergio Moro, apesar de estar realizando um "bom trabalho", agiu ilegalmente ao liberar escutas telefônicas do ex-presidente Lula.


The New York Times

Em cobertura crítica a Dilma, a publicação norte-americana chama de "surda" e "rídicula" a justificativa da presidente para convidar Lula para a Casa Civil. Para o NYT, a nomeação seria uma tentativa de dar foro privilegiado ao político. Em uma das reportagens, é apresentada a linha sucessória do governo. A lista mostra que o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-­RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), são acusados de corrupção. O texto aponta que Aécio Neves também está envolvido no escândalo.


The Economist

A revista britânica dá destaque para o confronto entre o governo e o Judiciário e ao papel do PMDB na sobrevivência do governo. "O PMDB vai, como é seu costume, seguir a opinião pública", diz a revista. Para a publicação, a liberação das escutas torna a disputa entre os poderes "implacável". O grampo "parece sustentar a tese de que Dilma tentou proteger Lula". Em relação a Sergio Moro, The Economist diz que, apesar da "sua perseguição obstinada à corrupção", tomou atitudes que podem ter ido longe demais e que, por isso, tem sido criticado.


The Wall Street Journal

O principal jornal de economia dos Estados Unidos escreveu sobre o impeachment de Dilma e ressaltou as medidas adotadas por Eduardo Cunha para dar agilidade ao rito. Na visão da publicação, apesar de o ex-presidente Lula negar qualquer envolvimento no escândalo, a indicação para a Casa Civil foi uma tentativa para blindá-lo de possíveis acusações e que ele, dificilmente, conseguirá escapar de uma denúncia criminal. O convite para Lula integrar o governo foi interpretado como "última cartada" da presidente, uma estratégia "certa na hora errada."


El País

Ao tratar da divulgação das escutas de Lula, o jornal espanhol demonstrou preocupação em relação às próximas semanas. Para a publicação, nada indica que o "frenesi enlouquecedor da última semana vai parar". Outro tema abordado foi a manifestação do dia 13, chamada pelo jornal de a "maior reunião política na história democrática do Brasil, organizada por forças da oposição". O El País ressaltou a relação conflituosa entre o governo petista e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu a posse de Lula na Casa Civil.


Die Zeit

O título de um artigo expõe a visão do jornal alemão sobre a crise: "Brasil – todos contra todos, ninguém pelo povo". Para a publicação, o país experimenta intrigas dignas de séries de televisão como House of Cards. Lula é descrito como "velho combatente do movimento sindical" chamado por Dilma para tentar contornar a crise. O texto aponta a divulgação dos áudios como um possível "ato de vingança" de Sergio Moro contra a nomeação do ex-presidente. Para o Die Zeit, o sistema político brasileiro perdeu a credibilidade quase por completo.