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Embrapa não responde sobre demissão de Navarro, mas presidente solta nota interna

Em mensagem a gestores, Maurício Lopes afirmou estar cumprindo a “obrigação de proteger” a empresa


MAURÍCIO TUFFANI,
Editor

Direto da Ciência ainda não recebeu da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as respostas sobre quais foram os dispositivos do código de ética da companhia que teriam sido transgredidos pelo pesquisador Zander Navarro, que foi demitido na segunda-feira (8) após ter criticado a direção da empresa em artigo publicado no Estadão na sexta-feira (5).

A pergunta sobre quais disposições do citado código teriam sido desrespeitadas pelo pesquisador foi encaminhada pela reportagem no início da tarde de terça-feira à estatal, que é vinculada ao Ministério da Agricultura (“Embrapa aponta artigo de pesquisador como ato de indisciplina, e o demite”).

Apesar de não ter respondido a Direto da Ciência nem a qualquer outro veículo da imprensa, em mensagem interna para gestores da Embrapa, o presidente da estatal, Maurício Lopes, referindo-se a Navarro, afirmou que “o empregado foi desligado por ignorar sistematicamente os códigos de ética e de conduta da Empresa, tendo sido diversas vezes orientado a não fazê-lo”.

No artigo “Por favor, Embrapa: acorde!”, publicado no Estadão, Navarro criticou a substituição de  pesquisadores da estatal em concursos recentes e afirmou que o funcionamento interno da companhia é” autoritário e não permite debater a situação e a construção de cenários plausíveis”.  E questionou “como justificar que uma gigantesca e cara empresa pública, sustentada por toda a sociedade, trabalhe cada vez mais e quase que exclusivamente para os ricos segmentos do empresariado rural?”.

Na mensagem aos gestores, que na verdade foi uma transcrição de outra, encaminhada originalmente  ao secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, que questionou a demissão, o presidente da Embrapa afirmou estar cumprindo a “obrigação de proteger a Embrapa, um patrimônio construído com o trabalho e o sacrifício de tantos, ao longo de quase 45 anos”.

Em entrevista ao Estadão na terça-feira, Navarro afirmou que recorrerá à Justiça para ser reintegrado à Embrapa.

Na sua edição do hoje, o jornal publicou o editorial “É preciso resgatar a Embrapa”, afirmando que em seu artigo do dia 8 o pesquisador “expôs de forma muito consistente as razões que o levam a crer que a estatal está sob sérios dilemas administrativos e, ainda mais preocupantes, morais”.

 

A mensagem do presidente

Confira a mensagem do presidente da Embrapa, Maurício Lopes, transcrita na íntegra a seguir

ASSUNTO: DESLIGAMENTO DO EMPREGADO ZANDER NAVARRO

Prezadas e Prezados Colegas,
Eu tenho me comunicado com algumas lideranças sobre o desligamento do empregado Zander Navarro, tendo em vista versões equivocadas que vem sendo disseminadas pela midia e redes sociais. Acho importante compartilhar com todos vocês o teor da minha comunicação. Abaixo a que enviei ao Secretário de Agricultura de SP, Arnaldo Jardim.
Abraços.
Maurício.

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Caro Secretário Arnaldo Jardim,
Chegou a mim a sua manifestação e preocupação sobre o desligamento do pesquisador Zander Navarro da Embrapa.
Eu gostaria, respeitosamente, de compartilhar com você que a iniciativa da Diretoria Executiva de desligar o pesquisador não se baseou apenas “em suas opiniões sobre a Empresa expressa na mídia” como vem sendo divulgado. O empregado foi desligado por ignorar sistematicamente os códigos de ética e de conduta da Empresa, tendo sido diversas vezes orientado a não fazê-lo, pelo seu chefe imediato, por diversos colegas, e por mim próprio, sem resultado. A despeito dos muitos espaços disponíveis na Empresa para discussões abertas e democráticas – todos fartamente usados pelo empregado para semear conflito e sizânia – o mesmo passou a regularmente publicar, em jornais de grande circulação, matérias que disseminam inverdades e expõem a Embrapa ao ridículo. O artigo intitulado “Por favor, Embrapa: acorde!”, publicado no jornal “O Estado de São Paulo” do dia 5/1/2017, é apenas uma dentre muitas manifestações ao longo dos últimos anos, em que o empregado revela de forma insistente insatisfação geral com as diretrizes emanadas da Empresa, incompatibilidade com o planejamento estratégico, com as programações e demais orientações, deixando clara a sua indisposição com o trabalho e a missão da Embrapa. É estranho que uma pessoa com tanta experiência possa insistir, por tanto tempo, de forma agressiva e totalmente inconsequente que tudo na Empresa está inadequado e precisa ser refeito, incluindo estratégia, projetos, estrutura e pessoas.

Portanto, ao desligá-lo, nós estamos somente cumprindo a nossa obrigação de proteger a Embrapa, um patrimônio construído com o trabalho e o sacrifício de tantos, ao longo de quase 45 anos. Continuar tolerando este tipo de comportamento seria uma afronta à instituição e às de pessoas de bem, já revoltadas com a atitude inconsequente e incompatível com o código de ética e de conduta da Empresa, o que já dura anos. Todos sabem que atravessamos momento extremamente sensível, com uma das piores crises que o país e, por consequência a Embrapa, já passaram. As negociações relacionadas a orçamento, Lei do Teto de Gastos, Lei das Estatais e outras na esfera de governo são extremamente difíceis e sensíveis. A Empresa realiza nesse instante uma ampla revisão da sua estrutura e da sua gestão, em processo complexo que depende do esforço, da união e da dedicação de todos. Ir regularmente a público incitar as universidades, as lideranças e os formadores de opinião contra a própria Empresa é uma falta gravíssima, que não pode ser tolerada, em especial no momento difícil que vivemos.

Por tudo isso estamos tranquilos, certos de que tomamos a decisão mais acertada.

Enfrentaremos com serenidade e firmeza todas as pressões relacionadas a este caso.

Agradeço por sua atenção e despeço-me,

Cordialmente

Maurício Lopes.

Na imagem acima, o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.